Artigo escrito por Keyla Deucher, Diretora Presidente da Associação Brasileira de Centros de Pesquisa Clínica
Tive a oportunidade de participar do evento SCRS 2025 EUROPE, em fevereiro de 2025, por indicação da nossa líder da Comissão de Gestão Administrativa e Financeira, Gabriela Alerico. Há muitos anos tentava participar dos eventos do SCRS, mas devido a inúmeros conflitos de agenda, nunca havia sido possível. Nessa ocasião, participei do seguinte painel: “Navigating Budget Negotiations with Inflation”.
Aproveitei a oportunidade para conversar com inúmeros centros de pesquisa da Europa e da América Latina, e muitas das minhas observações foram inesperadas.
Pontos principais:
1. O nível de profissionalização dos centros de pesquisa europeus é notavelmente desigual, e ficou abaixo de minhas expectativas. Alguns países europeus ainda apresentam PIs e centros que gerenciam a pesquisa clínica de forma mais artesanal, embora existam muitos centros e redes de centros extremamente organizados.
2. Observei muitos centros sem conhecimento de seus próprios custos e que ainda não sabem fazer uma boa negociação contratual.
3. No painel de discussão de contratos no qual participei, observei que, apesar de as situações econômicas serem diversas, a maioria dos centros não solicitava cláusulas de atualização de inflação em seus contratos, além de vários outros aspectos de negociação ainda frágeis.
4. Fair Market Value: os métodos para indicá-lo, para a delimitação dos orçamentos de pesquisa, é tão desconhecida para os centros europeus quanto para os centros em terras tupiniquins. Conclusão das sessões de discussão: ou os centros aprendem a avaliar corretamente seus custos e apresentá-los aos patrocinadores, ou o “fair market value” será sempre muito menor. Trazendo para a nossa realidade: centros que não sabem seus custos e não negociam contratos adequadamente reduzem os orçamentos no Brasil. Obviamente, esse não é o único fator, mas sim, influencia negativamente nos preços ofertados pelos patrocinadores. Não queremos aqui aumentar o Custo Brasil, mas apresentar uma análise de como esse processo pode influenciar nosso mercado (positiva ou negativamente).
5. Muitos centros da Europa também recebem a informação de que são os “únicos” a fazer determinadas solicitações como: correção pela inflação, taxas de SAE, entre outras. Mais uma vez, observamos que a transparência é necessária e deve ser uma via de mão dupla nas negociações contratuais.
6. Desafios dos centros EUROPEUS: pagamentos inconsistentes para despesas de recrutamento, atividades de SAE, treinamentos estudo específicos. Atividades raramente pagas: cancelamento de protocolo, emendas, falhas de screening. Há ainda dados de 1 a 10% de contratos negados pelos centros por orçamentos insuficientes.

Há muitos outros pontos a serem detalhados, mas percebi que, assim como o Brasil, os centros europeus também estão relativamente distantes do nível de desenvolvimento do mercado nos Estados Unidos. Porém, estamos caminhando de forma muito promissora por aqui. A ACESSE tem feito um extraordinário trabalho, ocupando um espaço vago que poderia ser dos centros de pesquisa.
Ao conversar com um diretor de centro da Inglaterra, falei das minhas impressões e de como havia semelhanças entre o mercado europeu e o mercado brasileiro em relação ao nível de desenvolvimento dos centros. Ele respondeu sorrindo (acredito que achou engraçado eu ter maiores expectativas em relação aos centros europeus): “- we are pretty much the same all over the world.”
Sim, somos realmente muito parecidos, mas acredito que os centros do Brasil podem tirar enorme proveito do nosso potencial (diversidade, tamanho da população, qualidade de dados). Que essa semelhança global nos inspire a construir um futuro diferenciado e competitivo, e que a ACESSE continue auxiliando nosso país nessa jornada.jornada.